quarta-feira, 26 de maio de 2010

Cinema Mudo

Diversos estudos mostram que a comunicação não verbal é tão ou mais importante do que aquilo que dizemos. No livro “O Desafio da Liderança”, os autores Kouzes e Posner, apontam que cerca de 7% da comunicação é composto pela fala. As expressões não verbais são muito mais importantes, e contribuem com 55% da mensagem. O restante da comunicação está ligado a fatores como a entonação, ênfase, colocação vocal, volume da voz do interlocutor.

E uma aula de comunicação não verbal é o que nos dá o filme Wall-E, da Pixar, ganhador do Oscar de Melhor Animação de 2008.

Para mim, Wall-e é uma das animações mais belas que assisti. Claramente inspirado nos filmes de Chaplin, o personagem é um simpático e singelo robô que realiza o trabalho de limpar a sujeira deixada pelos humanos em um mundo devastado.

Nos 45 minutos iniciais do filme, não há uma só fala: sozinho no planeta, Wall-e vê sua rotina ser mudada com a chegada de EVE, uma robôzinha charmosa e moderna, que tem a missão de examinar o planeta em busca de algum vestígio de vida.
Além de não falar, os robôs não tem expressão facial. Mesmo assim, todas as emoções e expressões de Wall-E e de EVE, mostradas no filme através de leves mudanças na posição dos olhos de Wall-E ou nos leds de EVE, são perfeitamente compreensíveis. Mesmo sem nenhum diálogo, a dupla é mais expressiva do que muito de nós. Medo, raiva, ameaça, amor, compaixão, alegria e desespero são expressos de forma magistral pelos personagens.

Entender como nos comunicamos não verbalmente e melhorar esta comunicação é de extrema importância para o sucesso profissional. Muitas vezes, aquela sensação incômoda de que uma pessoa não nos convence vem exatamente do desalinhamento entre o que ela fala e o que lemos em sua comunicação não verbal. Conseguimos, pela interpretação de gestos, captar nas entrelinhas a mensagem que recebemos.

O alinhamento entre a comunicação verbal e não verbal é fundamental para a credibilidade do profissional. No caso dos líderes, transmitir insegurança na voz e desalinhamento leva à falta de credibilidade, fundamental para o exercício da liderança.

O silêncio também é um tipo de comunicação não verbal. Por meio dele, mostramos nossa irritação ou descontentamento. Ao calar, forçamos a outra pessoa a tentar descobrir o que está atrás desse silêncio. Assim como a indiferença , o silêncio indica a fragilidade das relações. Ao conhecer Wall-e, EVE simplesmente o ignora. Nosso ingênuo robozinho se apaixona por este ser inalcançável, que nem ao menos nota sua presença. Mas no dia a dia, a indiferença, o silêncio e o desprezo atingem profundamente aqueles que recebem esta mensagem não verbal.

Uma dos mais poderosos meios de comunicação não verbal é o olhar. É através do olhar que Wall-e e EVE transmitem grande parte de seus sentimentos. A admiração e encantamento com que Wall-e olha EVE durante todo o filme. E olhar de EVE, no decorrer da história, passa pela indiferença, pelo desprezo, pela curiosidade, pela raiva, pelo interesse e termina com o olhar de paixão.

Há alguns anos, gerenciei uma grande equipe de vendedores. Após uma fusão com outra empresa, assumi uma nova equipe de vendas. Todos os dias, os vendedores precisavam falar comigo, e eu tinha o hábito de continuar trabalhando no computador ou em algum relatório enquanto os ouvia.

Minha equipe anterior já me conhecia, e sabia que eu estava ouvindo. Porém, comecei a ter problema com a equipe nova, que reclamava que eu não prestava atenção ao que diziam. Ao não olhar para as pessoas enquanto elas falavam, a mensagem não verbal que eu passava era a de desprezo e desatenção. De alguém não confiável e descomprometido. Levei muito tempo para desfazer esta imagem negativa que criei junto à equipe.

Então, da próxima vez que for conversar com alguém, preste atenção á sua linguagem corporal, aos sinais não verbais que emite. Pois, se eles não estiverem alinhados com seu discurso, você pode, além de comprometer seus relacionamentos, construir uma imagem negativa como profissional.

Nenhum comentário: