terça-feira, 18 de maio de 2010

As idéias são coisas muito perigosas.

Escrever um artigo para uma coluna não é tão simples como se imagina. O difícil não é definir um tema. A grande questão é como abordar este tema de uma forma diferente, com as qual as pessoas possam se identificar. Existem diversos modos de se escrever uma coluna sobre carreira. Depois de anos como leitor ávido deste tipo de texto, e de outros tantos como autor, ainda tento descobrir minha linguagem, uma forma de transmitir a mensagem e atrair a atenção dos leitores.
Nos últimos meses, voltei a assistir diversas animações da Pixar, junto com meu filho. Enquanto ele se diverte com os personagens, analiso os filmes com o olhar de autor, que tem o desenvolvimento pessoal e profissional como foco.
Como os filmes da Pixar são repletos de críticas e citações ao nosso mundo adulto, em especial o corporativo, minhas últimas colunas foram baseadas nas animações do estúdio. E para minha surpresa, o retorno de meus leitores tem sido excepcional. As pessoas se identificam com as colunas assim como se identificam com os interessantíssimos personagens da Pixar. Creio que falar de minhas experiências pessoais também cria esta conexão. Então, vamos continuar com este formato vencedor.
Esta semana, revi Vida de Inseto (a bug´s life, 1997). E um diálogo chamou minha atenção, e podemos usá-lo para discutir nossa vida corporativa.
No filme, as formigas precisam colher comida não só para sua sobrevivência, mas também para uma gangue de gafanhotos mal-humorados. Por causa de mais uma trapalhada da criativa e inquieta formiga Flik, toda a colheita é perdida, e os gafanhotos dão um ultimato à princesa: querem o dobro do alimento em um tempo muito pequeno. Flik então sai em busca de um grupo de insetos que possam ajudar o formigueiro a enfrentar o bando de gafanhotos.
Depois de muitas aventuras, gafanhotos, formigas e o grupo de insetos se enfrentam em uma batalha épica. No clímax da luta, Hopper, o líder dos gafanhotos diz para Flik:
Que isto sirva de lição a todas vocês, formigas. As idéias são coisas muito perigosas. Vocês são todas umas estúpidas e meras escavadoras cuja única função no planeta é nos servir!

Muitas vezes, ouvimos de nossos chefes e patrões essa mesma mensagem, só que de forma velada. De acordo com a visão estreita e retrógrada destes pseudo-líderes, não somos pagos para pensar: pensar é perigoso. Somos meros instrumentos, braços, mão-de-obra para os planos que são desenvolvidos por quem realmente tem o direito de pensar.
Esta visão está arraigada nas empresas por que é uma das bases do modelo taylorista de trabalho: a divisão das responsabilidades entre quem planeja (a cúpula da empresa) e quem realiza as atividades repetitivas e monótonas, nas quais nenhum tipo de criatividade é bem vindo.
Trabalhei, há alguns anos, para dois chefes competentíssimos, que permitiam que seus funcionários fossem criativos e sugerissem mudanças. Aproveitei este espaço e consegui crescer rapidamente na empresa, na qual me tornei gerente de planejamento. Em sua trajetória de crescimento, a empresa adquiriu uma combalida concorrente. Na negociação, os sócios da outra empresa acabaram por ficar com uma pequena participação na nova empresa.
Na primeira reunião que tive com estes novos sócios, sobre uma ação a ser implantada no mercado, falei que achava que deveríamos tomar um caminho diferente do proposto até aquele momento. Para minha surpresa, o novo sócio (o que tinha a menor participação) disse: “não te pago para achar nada, te pago para fazer aquilo que mandarmos.” Na hora, tive vontade de dizer que talvez esta postura como líder tenha sido o motivo que levou a empresa construída pelo pai a ser comprada pelo principal concorrente.
No filme, mesmo as formigas compatilham esta visão: Flik é criticado por ser criativo, e constantemente é aconselhado a se conformar em apenas ser mais um operário. A cada uma de suas invenções, a rigidez das normas do formigueiro é ameaçada. Portanto, sua inventividade não é bem vinda.
Mas Flik tem a resposta para Hopper:
Engano seu, Hopper. As formigas não foram feitas para servir os gafanhotos. Já vi estas formigas fazerem coisas incríveis. Ano após ano dão um jeito de coletar comida para elas e para vocês. Então, quem é a espécie fraca? As formigas não servem aos gafanhotos! Vocês que precisam da gente! Somos mais fortes do que diz. E você sabe disso, não é?
Não deixe que digam a você que pensar não é importante, que idéias são perigosas. Criatividade, inventividade e visão são características nos diferenciam dos demais, que faz com que nos destaquemos da multidão. E são fundamentais para uma carreira bem sucedida.Você é mais forte do que te dizem!

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