sexta-feira, 30 de abril de 2010

Cursos tecnológicos ganham espaço na sociedade. Número de matrículas na modalidade cresceu 390% de 2002 a 2007

O Censo da Educação Superior, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) em janeiro, revela uma tendência: a valorização dos cursos superiores de tecnologia. Historicamente marcada pela valorização dos bacharéis, os cursos tecnológicos, mais voltados para o mercado de trabalho, conquistaram espaço na sociedade. De acordo com o censo, o número de alunos que ingressaram em cursos de tecnologia cresceu 390% de 2002 a 2007, passando de 38.386 para 188.347. Foi o maior crescimento de matrículas registrado no período e a expectativa é que cresça nos próximos anos, isso porque o censo de 2007 ainda não reflete a expansão da rede federal nem a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, nos quais 30% das vagas estarão reservadas a cursos superiores de tecnologia. Até o final de 2010, a rede federal contará com, no mínimo, 354 escolas técnicas. Em 2005, ano do início da expansão, eram 140. Os Cursos Superiores Tecnológicos (CST) tem como objetivo formar profissionais aptos a desenvolver de forma plena e inovadora as atividades de um determinado eixo tecnológico e com capacidade de utilizar, desenvolver ou adaptar tecnologias com a compreensão crítica. Ou seja, alia o conhecimento às necessidades do mercado. A grande vantagem do CST é o tempo de duração do curso que, em geral, é de 2 a 3 anos, o que significa economia de tempo para aqueles que querem uma entrada mais rápida no mercado de trabalho. Outra característica importante é o foco específico do curso onde o profissional está certo de sua área de atuação. Em entrevista exclusiva à TIC Educação, o especialista em cursos de Tecnologia, Fabiano Caxito, explicou que, diante das demandas da sociedade do conhecimento, as universidades tornaram-se mais voltadas às exigências do mercado de trabalho. O professor falou ainda sobre uma pesquisa que realizou em 350 empresas de São Paulo para investigar a aceitação do tecnólogo no mercado de trabalho. Segundo ele, existe ainda um grande desconhecimento por parte do profissional de recursos humanos sobre o que é o curso tecnológico.

TIC – A valorização dos cursos superiores de tecnologia é uma tendência atual verificada pelo aumento do número de alunos que ingressaram em cursos de tecnologia, que cresceu 390% de 2002 a 2007. O que explica essa evolução?

Fabiano Caxito – O crescimento da procura e, conseqüentemente, da oferta de cursos tecnológicos no Brasil se insere em um quadro mais amplo de evolução da educação em todo o mundo. A educação superior ganha um novo papel em um mundo globalizado e no qual novas tecnologias constantemente impactam o mercado de trabalho. Diante das demandas da 'sociedade do conhecimento', as universidades são pressionadas a tornarem-se mais voltadas para as exigências do mercado. A procura por uma maior profissionalização e a explosão dos cursos tecnológicos é decorrente de dois fenômenos que afetam o mercado de trabalho:

- Reorganização produtiva: as organizações buscam reduzir drasticamente seus custos de operação, com o intuito de aumentar a competitividade nos mercados nacionais e internacionais. Dentre as formas encontradas pelas empresas para reduzir seus custos, pode-se citar a terceirização de parte de suas atividades antes desempenhadas pelas empresas.

- Avanço da ciência e da tecnologia mudou as rotinas de trabalho: ferramentas como os microcomputadores provocaram uma revolução nas práticas de gestão dos serviços administrativos, comerciais, dos escritórios, a bancária e dos meios de pagamentos. Os profissionais devem conhecer não somente os equipamentos como também dominar os aplicativos utilizados em sua área funcional, e principalmente, entender as informações com as quais trabalham, estratégicas tanto para a sua quanto para outras áreas funcionais.

Estas duas grandes tendências são influenciadas por outras implicações referentes à qualificação destes profissionais, como a reestruturação do processo produtivo decorrente da globalização, a abertura das economias nacionais aos mercados externos, a criação de blocos econômicos regionais, o aumento da preocupação da empresa com o meio ambiente, o crescimento da quantidade de organizações não-governamentais, as transformações nas relações e nas formas de trabalho, os novos padrões de consumo e o desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias baseadas na microeletrônica.

TIC – Embora tenha tido crescimento nos últimos anos, ainda existe preconceito quando o assunto é Curso Superior Tecnológico. Muitos tecnólogos reclamam, por exemplo, que as empresas, ao selecionar os candidatos, dão preferência ao bacharel. Por que isso ainda existe no Brasil? Fabiano Caxito – Com o objetivo de verificar a aceitação dos cursos tecnológicos pelo mercado de trabalho, realizei, com a ajuda de meus alunos do curso tecnológico de Recursos Humanos da Universidade da Cidade de São Paulo (Unicid), uma pesquisa com empresas nesta cidade. O estudo teve por objetivo principal medir o grau de aceitação do egresso dos Cursos Superiores em Tecnologia pelo mercado de trabalho por meio de uma pesquisa realizada com 355 empresas atuantes em São Paulo e verificar se o conhecimento da estrutura e dos objetivos desta modalidade de cursos por parte dos profissionais de Recursos Humanos (RH) das organizações influencia a aceitação dos tecnólogos. A análise dos dados coletados permite concluir que, apesar do aumento da quantidade de vagas de Cursos Tecnológicos oferecidas pelas IES, o mercado de trabalho ainda não aceita completamente o tecnólogo como um profissional de nível superior. Esta não aceitação parece estar ligada a um desconhecimento da estruturação e dos objetivos dos Cursos Tecnológicos. O grau de aceitação dos egressos entre as empresas nas quais os profissionais de Recursos Humanos demonstraram conhecer tais cursos é maior do que o encontrado dentre as empresas que desconhecem os objetivos da graduação tecnológica. Gradativamente, com a elevação do número de formados e um maior conhecimento do real significado dos Cursos Tecnológicos, o mercado de trabalho está aceitando mais facilmente os tecnólogos. Em geral, empresas que buscam competências específicas são mais abertas aos graduados em Cursos Tecnológicos. Por este motivo, o curso tecnológico normalmente é mais procurado por profissionais que já estão no mercado.

TIC – Qual a diferença entre o curso tecnológico e o curso superior tradicional e as vantagens do primeiro?

Fabiano Caxito – Existem duas diferenças básicas entre o Curso Tecnológico e o bacharelado. O Curso Tecnológico dura, em média, de dois a três anos. Os bacharelados geralmente são concluídos em quatro anos a seis anos. A outra diferença é o foco do curso. Por serem mais curtos, os Cursos Tecnológicos dão uma formação mais específica. Os bacharelados são mais abrangentes, mais generalistas. Os cursos tecnológicos são focados dentro de um determinado campo de atuação e voltados para a educação profissional. Por isso, são mais profundos. São cursos ideais para quem já está inserido no mercado e pretende aprimorar a carreira. Foram desenvolvidos para responder às novas tendências do mercado que cada vez mais exige profissionais com perfil diferenciado dotado de competências e habilidades específicas. O que quero salientar é que o Curso Tecnológico não é melhor nem pior que o bacharelado. São apenas diferentes. O objetivo do Curso Tecnológico não é formar um administrador em dois anos, mas sim formar um profissional que atenda a uma demanda específica do mercado de trabalho. Por outro lado, o curso tecnológico não é meramente um curso técnico, como os cursos de nível médio. Por exigência do MEC, de um terço a metade da grade de disciplinas do curso são voltadas à formação geral e humana do aluno.

TIC – O que podemos esperar nos próximos anos para essa modalidade, uma vez que o governo está expandindo a rede federal com a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, nos quais 30% das vagas estarão reservadas a cursos superiores de tecnologia?

Fabiano Caxito –

De acordo com o parecer emitido por especialistas do Conselho Federal de Educação em 2001, "[..] os cursos superiores de tecnologia parecem ressurgir como uma das principais respostas do setor educacional às necessidades e demandas da sociedade brasileira [...]". Sguissari, em um artigo intitulado "Educação Superior no Limiar do Novo Século: Traços Internacionais e Marcas Domésticas", analisa as mudanças da educação superior em 14 países e afirma que as mudanças ocorridas na educação superior brasileira, dentre elas a criação dos cursos tecnológicos, encontra paralelo nas políticas e reformas da educação superior adotadas em outros países, como Canadá, Austrália e Argentina. O modelo de ensino canadense vincula a pesquisa universitária às necessidades da indústria, agilizando a transferência de conhecimento da universidade para a empresa, transformando o conhecimento em ferramenta para elevar a produtividade e incrementar a competitividade internacional do País. A reorientação de projetos educacionais privilegiou as disciplinas mais próximas ao mercado e a pesquisa aplicada. No caso da Austrália, a reforma educacional é claramente ligada à economia nacional e às necessidades do mercado de trabalho. Também na Argentina o processo de modernização do sistema educacional respondeu a interesses de natureza econômica. No Brasil as reformas da educação superior guardam semelhanças com as ocorridas nos países citados. A regulamentação dos cursos tecnológicos foi uma forma de aproximar ainda mais o ensino às necessidades do mercado de trabalho. O governo tende a investir na rápida formação de quadros para o mercado como forma de evitar um apagão de mão de obra que possa comprometer o crescimento econômico do país. Creio que com o aumento do número de egressos de cursos tecnológicos que chegam no mercado de trabalho, crescerá a aceitação destes profissionais, pois as instituições sérias vem implantando projetos extremamente modernos nestes cursos. A Universidade da Cidade de São Paulo, instituição na qual leciono, adota, em todos os seus cursos tecnológicos, o currículo por competências, organizado por módulos, o que há de mais atual em matéria de organização curricular. O sucesso do modelo é tão grande que está sendo implantado nos bacharelados e licenciaturas da instituição.

Fonte: Odisseu - Agência de Informação



2 comentários:

Unknown disse...

Irei iniciar o curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas (Tecnólogo) e um primo me disse que o tecnólogo é mal visto no mercado, tem salários mais baixos e que dão preferência a contratar o Bacharel. Sei que meu primo não fala isso com propriedade, mas saberia me informar se isso procede?
Obrigado.

Temos Vagas - Acelere sua carreira disse...

Fabricio
assista a entrevista que dei ao programa do Max Gehringer no Fantastico, que explica bem esta situação.
http://www.aceleresuacarreira.com.br/2008/11/cursos-tecnolgicos-no-fantastico.html